O atirador espanhol Jorge Ballesteros, conquistou a medalha de ouro geral na divisão Open no 2017 IPSC Handgun World Shoot. No Mundial de 2005, ele conquistou a medalha de bronze geral na divisão Open e em 2002 conquistou a medalha de bronze na categoria Júnior. Ele também tem duas medalhas de ouro na divisão Open do European Handgun Championship (2013 e 2016), e venceu o Campeonato Espanhol de Handgun 12 vezes.
Na Espanha, seu país de origem, atua como policial, mas roda o mundo ensinando sua técnica a centenas de atiradores que querem aprender com ele. É simpático, uma figura muito agradável. Concedeu-nos essa entrevista enquanto estava em Juiz de Fora-MG, aplicando treinamentos a vários atiradores de todo o Brasil.
Como e por que você entrou nesse esporte?
Foi por causa dos meus pais eles já eram fanáticos por esse esporte, meu pai começou a me treinar quando eu tinha apenas 16 anos e aos poucos fui melhorando. Quando era pequeno, o tiro não me chamou muita atenção, talvez porque eu o visse como algo inacessível devido à minha pouca idade. Na Espanha, a legislação só permite que você obtenha uma licença a partir dos 18 anos. Porém, assim que comecei a treinar com meu pai, aos poucos fui me fisgando cada vez mais e até hoje.
Quando você começou, você tinha alguma referência no esporte? Quem era?
Era meu pai, a verdade é que ele conquistou vários títulos de campeão na Espanha e meu objetivo era treinar forte para poder vencê-lo. A nível internacional, tive várias referências, como Rob Leatham, Todd Jarret ou Eric Grauffel.
Estar no mundo do tiro esportivo influenciou sua escolha de carreira, a da polícia, na Espanha? E você acha que tem uma vantagem maior por ser policial?
Sim, também é de família, meu pai era policial e também me incentivou a seguir seus passos. A verdade é que são poucas as profissões que hoje podem ser conciliadas com os esportes de alto nível. Felizmente, a Polícia Nacional do meu país me apoiou muito por meio do setor de esportes do Polcia Sports Group.
Para ser um atirador CAMPEÃO MUNDIAL, quantos por cento é inspiração e quantos por cento você está suando?
Acho que se alguém visse os vídeos das minhas primeiras competições, não acreditaria que anos depois aquele atirador poderia ganhar um campeonato mundial. A base é o esforço e o sacrifício, e isso sim é orientado através um bom treinador. Acredito sinceramente que não se nasce assim, mas é feito, por mais que digam o contrário.
O que mais um CAMPEÃO IPSC precisa ter em sua opinião?
Acho, antes de tudo, humildade. Uma pessoa não deve mudar só porque é campeã. Acredito que deve servir de exemplo e servir de inspiração para as gerações futuras. Afinal, estamos todos aqui de passagem, acho importante deixar um bom legado e contribuir com o esporte para que ele continue crescendo. Porque, afinal, não seremos mais que uma memória, mais uma página na história do esporte.
Desde que você começou, o formato das competições na Europa mudou muito?
Sim, eu acho que é algo que aconteceu em todo o mundo, mas principalmente na Europa eu vi uma evolução clara. Hoje as etapas são mais dinâmicas, com mais possibilidades de resolução, muitas vezes sem posições iniciais específicas. Acho que é importante fazer o atirador pensar na melhor estratégia possível. Para mim, a tática é a parte desse esporte que mais gosto.
O IPSC está crescendo na Europa hoje? Como é a participação europeia na modalidade IPSC?
Continua crescendo a cada dia, tem muitos fãs e acho que as redes sociais têm ajudado muito esse esporte nos últimos anos. As armas nunca foram bem vistas pela sociedade, a imprensa e a televisão sempre deram uma péssima publicidade a qualquer atividade relacionada com armas. É importante usar as redes sociais e outros canais alternativos para divulgar o esporte e fazer com que chegue a mais pessoas. No final das contas, cada vez mais, vivemos em um mundo em que decidimos ver o conteúdo que queremos ver. Acho que é uma boa oportunidade para o IPSC poder ser conhecido e divulgado através destes canais, longe dos meios de comunicação tradicionais.
Em geral, como o esporte é visto no continente europeu?
Bem, o futebol é o esporte mais popular, move massas. Espero muito que isso pode mudar um dia e que esse interesse possa ser distribuído para outros esportes. Acredito que isso vai acontecer e, de fato, já está começando a acontecer entre as novas gerações.
E no MUNDO? Como você vê o crescimento dessa modalidade?
Eu acho que é exponencial. É um esporte que está crescendo muito e ainda tem muito a crescer. Na verdade, é uma das modalidades de tiro mais lucrativos do mundo. Armas, munições, acessórios…. Há muita atividade. Muitas marcas estão apostando forte no IPSC, tenho certeza que em alguns anos poderemos ver um panorama muito diferente do atual.
Foi mais difícil ganhar o EUROPEU ou o MUNDIAL?
Sem dúvida, o mundial. Vencer um campeonato europeu não é fácil, obviamente, mas em um mundial há muito mais atiradores de alta classe que podem vencer.
Na sua opinião, existe um país que treina melhor seus competidores?
Pelo que eu sei, acho que a Itália é o país que está fazendo um melhor trabalho nesse sentido. Como vocês do Brasil, a Itália tem sua própria Federação IPSC (FITDS) e há um setor que se encarrega de treinar seus atletas através da qualificação de instrutores. No meu caso, há anos tenho participado nesse tipo de eventos de formação, colaborando com a federação italiana na atuação e formação de formadores.
Qual é a sua principal preocupação ao aplicar o treinamento aos seus “alunos” ao redor do mundo?
Eu me preocupo muito com a qualidade do ensino. Acredito que é importante fazer um treinamento que beira a excelência e que crie um sistema de treinamento que o atirador possa dar continuidade por conta própria. O desenvolvimento do plano depende do aluno e de seu nível. Digamos que é um sistema de treinamento por níveis e cada nível tem suas próprias características. Sempre que faço um curso de tiro, coloco muita ênfase neste modelo para que seja compreensível e todos os alunos possam usá-lo como um guia.
Que tipo de conhecimento é mais importante transmitir? O que realmente não pode ser deixado sem que o aluno realmente entenda?
Acho que transmitir o conceito é o mais importante, porque antes de tudo é preciso entender o que é preciso fazer para evoluir como atirador, não é uma questão de atirar mais, mas sim o contrário, aproveitar o recursos da maneira mais eficiente que temos. Em segundo lugar é o “como” e é aí que mostro as técnicas a serem realizadas e corrijo o aluno através do exercício específico.
Você gosta de vir para o brasil? E como o resto do mundo vê os atiradores de elite brasileiros?
Gosto muito do Brasil, o acolhimento é sempre excelente, o carinho que recebo do povo não tem preço. É um lugar de que sempre me lembro com carinho, sempre desejo voltar mais vezes. O Brasil é uma das maiores regiões de IPSC, com grandes atiradores como Saldanha, Neto e Sarkis. O nível de tiro está crescendo muito, vejo isso principalmente no número de jovens atiradores que já estão em um nível alto.
Pelo que você sabe e pela sua experiência, o que você acha que precisa ser melhorado no IPSC brasileiro?
Acredito que as competições devem ser adaptadas à nova realidade com a realização de etapas com melhor dinâmica, procurando permitir ao atirador escolher estratégias alternativas, creio que nesse sentido os atiradores europeus estão mais habituados a cenários de tiro deste tipo, muito semelhantes ao que costumamos encontrar nos campeonatos europeus ou mundiais.
Quais são suas expectativas para a próxima Copa do Mundo que será realizada em Pattaya – Tailândia?
Meu objetivo será tentar atirar como sempre faço e se for acompanhado de um novo título… Melhor ainda!
Jorge Ballesteros ainda sonha com o quê? Quais são os planos para os próximos anos?
Acho que o mais importante na vida é ser feliz. No final das contas, o esporte faz parte da vida. Acho que não é preciso viver pelo e para o esporte, acredito que seja o contrário. Acho que cada um tem que fazer o que gosta, o IPSC é uma das minhas favoritas, claro. Também é verdade que isso dá sentido, marca um caminho para você seguir. Meus planos são continuar curtindo e saboreando as pequenas coisas da vida e, claro, ter saúde para poder realizá-las!