Correção de Tiro: o segredo está nos detalhes

Você tem uma boa arma, conhece bem o seu equipamento, treina há bastante tempo com constância, faz a visada e o enquadramento correto do seu alvo, segue os fundamentos para um bom tiro, mas ainda assim, não entende o porquê que os seus disparos não estão acertando o local desejado. Bem, se a introdução desta matéria te descreve, leia-a atentamente e coloque em prática todas as dicas do nosso entrevistado para melhorar o seu tiro. E lembre-se: o segredo está nos detalhes! Instrutor de armamento e tiro, graduado em Segurança Pública, pós-graduado em Educação e pós-graduando em Balística para o Direito. Este é um pouco do currículo do nosso entrevistado, Emerson Falconi Chimendes, ou simplesmente, Falconi. O instrutor tem 44 anos de idade, é casado, natural de Porto Alegre (RS) e reside atualmente na grande Florianópolis (SC). Especialista no assunto e abordando o tema, Correção de Tiro, desde 2014, Falconi também teve que rever os conceitos e identificar os erros que cometia ao disparar uma arma para alcançar um desempenho com excelência, permitindo assim, palestrar sobre este conteúdo em todo o país. Confira a íntegra da entrevista: Você tem uma palestra com o tema, Correção de Tiro. Quando teve a ideia de montar uma palestra com esta abordagem? A abordagem desse tema surgiu ainda em 2014, quando iniciei minha atividade como instrutor de tiro. Ao buscar corrigir os atiradores, apliquei tudo que sabia sobre fundamentos e correção de tiro, baseado no Quadro de Análise de Tiro de Arma Curta. Entretanto, por mais que eu me esforçasse, parecia que minhas intervenções não geravam resultados na performance dos atiradores. Então, comecei a estudar muito sobre fundamentos de tiro e sua relação com a correção dos tiros, o que acabou culminando no desenvolvimento de um método de correção próprio, baseado nesses estudos e em uma série de experimentos. Como meu propósito é ajudar os instrutores a vencer essa dificuldade, publiquei um artigo no site infoarmas com o tema: Correção de Tiro – Uma Arte que Poucos Dominam. A partir dessa publicação, comecei a receber convites para tratar do assunto nas feiras mais recentes, dentre elas, o convite para palestrar na primeira edição da feira Texas Expo & Tiro em 2021 e na Shot Fair Brasil em 2022. Até chegar ao nível de palestrar sobre o tema, acreditamos que você também teve que corrigir seus disparos. Quais eram os erros que mais cometia? Sim, certamente. Assim como todos os atiradores, ficamos incomodados quando o resultado fica abaixo do esperado. No meu caso, eu cometia dois grandes erros. No tiro visado, muitas vezes eu ficava ansioso pelo momento do tiro e tentava “me livrar”. Como resultado, meus tiros iam para baixo pela torção do pulso somado com o acionamento repentino do gatilho. Já no tiro reativo, meus tiros espalhavam em volta do centro do alvo, com alguma concentração na parte inferior esquerda e superior direita, resultado da falta de enquadramento correto do armamento do alvo, empunhadura ainda não consolidada. Também tinha muitas dúvidas em relação ao modo “correto” de fazer a visada em cada caso. Uma pessoa quando for comprar uma arma de fogo, além de escolher o equipamento mais adequado à realidade dela, deve levar em conta o treinamento com este objeto. Outro fator importante é a escolha de um instrutor de armamento e tiro capacitado a orientar de forma correta o manuseio desta arma. Fale sobre a importância de um bom instrutor para evitar e corrigir os erros de tiro. Escolher um instrutor é muito difícil, geralmente você trabalha com aquele que está disponível no clube. Conhecimento sobre tiro é essencial, e esse conhecimento está acessível a todos, no YouTube, em portais e sites e na rica bibliografia que tem surgido nos últimos anos. Saber ensinar também é outro fator muito importante. Todo instrutor precisa ter o mínimo de conhecimento sobre Andragogia e as técnicas de ensino para adultos, não se admite mais aquele instrutor que fala rebuscado, como se estivesse dando aula para si, sem saber se o atirador está entendendo o que ele está explanando. Por fim, a competência mais importante de todas: sua atitude perante o atirador. Hoje, não há mais espaço para o instrutor arrogante, que acredita ser melhor que os outros, que repete o que os outros dizem e pensa que está ensinando ou acredita que a sua técnica é a única que funciona. O instrutor que não é profissional, tolerante e empático, sem demora vai criar uma barreira na interação com o atirador. O bom instrutor busca conhecer seu aluno, saber qual é sua atual condição, seu objetivo e como levar o aluno a alcançar esse objetivo. Você indica que assim que uma pessoa adquirir uma arma de fogo, esta deve treinar com este equipamento? Muito. Antes de iniciar qualquer manejo com o armamento, não pode haver dúvidas quanto às regras de segurança e os procedimentos para evitar qualquer acidente ou incidente. Além disso, a escolha do local para treinamento é importante, independente do manejo que será feito com a arma de fogo. Conhecer seu equipamento é o primeiro passo de alguém que adquire uma arma de fogo. Ela deve conhecer essa arma com intimidade, suas partes internas, como funciona e como operar a arma. Para isso, tanto na rotina de treinamento em seco e no estande com a arma, e a sua manutenção são fundamentais para adquirir essa intimidade. Em relação ao treinamento em seco, pode ajudar neste contexto? O treinamento em seco é a principal ferramenta para desenvolvimento das habilidades com a arma de fogo. Geralmente usamos o estande para conferir se o treinamento em seco está dando o resultado esperado e, hoje, o mercado oferece uma série de ferramentas para que a pessoa possa treinar com segurança, tais como munições de manejo, munições laser, simulacros de pistola (com ou sem partes funcionais), softwares que fazem leitura de disparos laser, aplicativos de celular tipo Shot Timer, e por aí vai. Quais são os erros mais comuns cometidos por quem possui uma arma de fogo? Os erros mais comuns estão ligados à ansiedade em relação ao momento do tiro. No artigo “Dica de Ouro para Não Errar o Tiro”, publicado no InfoArmas, eu apresento a relação entre os três fundamentos mais importantes para o resultado no alvo; a empunhadura, a visada e o acionamento do gatilho. Do que eu tenho observado, o erro mais comum é o atirador tentar adivinhar o momento em que vai ocorrer o tiro ou escolher esse momento. Quando isso acontece, é comum o atirador fazer uma força a mais para conter o recuo da arma e essa força acaba apontando a arma para baixo antes do tiro ocorrer. Nessa fração de segundo, a arma vai sair do objetivo no alvo, por isso é tão comum ver os alvos com concentração de tiros na parte de baixo. Como evitar estes erros? Quais são as dicas? O atirador precisa entender que toda expectativa em relação ao tiro precisa ser eliminada. O seu papel é manter a arma apontada para o alvo, enquanto o gatilho é trazido à retaguarda. Em algum momento, a arma vai desengatilhar e efetuar o tiro. A dica é não se preocupar com esse momento, pois todo o movimento realizado pela arma, até o projétil sair do cano, é desprezível, ou seja, os pequenos movimentos de cano e ferrolho produzidos pelo deslocamento do projétil dentro do cano não vão desalinhar a arma durante o tiro. O recuo do ferrolho, no caso das pistolas, só vai acontecer de modo considerável depois que o projétil deixou o cano. Em sua palestra sobre este assunto, você destaca que a correção do tiro está apoiada em cinco pilares. Quais referências são estas e qual a importância de cada uma? O método que desenvolvi para correção de tiro é focado no instrutor e possui cinco etapas. A primeira etapa é analisar o alvo, ou seja, o agrupamento de uma série de tiros, verificando sua concentração (precisão) e a localização desse agrupamento (exatidão). A análise desse agrupamento visa comparar o resultado alcançado com a expectativa de resultado do atirador. A segunda etapa é identificar a falha, seja ela por causas externas (contexto ou meta definida), do equipamento (arma ou munição) ou do atirador (características pessoais ou execução técnica). Feito o diagnóstico do problema, inicia-se a fase de correção em outras três etapas. A terceira etapa é fazer com que o atirador entenda o erro e como evitá-lo, seja qual for sua causa. Se isso não acontecer, o atirador vai continuar cometendo os mesmos erros. Em seguida, na quarta etapa, o instrutor vai empregar esforços para que o atirador identifique exatamente quando o erro for cometido. Essa etapa é fundamental para que o atirador possa evoluir sua técnica e evitar o erro futuramente. Na quinta e última etapa, o instrutor começa a sair de cena dando ao atirador a possibilidade da autocorreção com base no que foi aprendido. Aqui o instrutor visa manter o atirador concentrado e focado na execução correta da técnica através de pequenos feedbacks quanto à execução. Por vezes, essas etapas podem ocorrer de modo sobreposto, ao mesmo tempo em que a falha é identificada, o atirador percebe e entende o erro que está cometendo, o que não é raro acontecer. Muitos ainda acreditam que, para aplicar a correção do tiro, basta verificar a execução dos fundamentos desse tiro. Na verdade, os fundamentos de tiro são simples, complexo é o ser humano.