Da falta de apoio ao topo do mundo no IPSC

Como se tornar um campeão mundial de IPSC? Quais são as dificuldades encontradas pelo caminho? É possível repetir este feito? A 3ª edição da Revista SHOOTERS reservou um espaço especial em suas páginas para contar a história do primeiro brasileiro a se tornar campeão mundial de IPSC. Lucimar Domingues de Oliveira alcançou o máximo da glória no esporte em 2011, na Grécia, e está em busca de repetir o feito em 2022, na Tailândia. Lucimar Domingues tem 64 anos de idade, nasceu na cidade de Trindade (GO) e reside em Goiânia, no mesmo estado. O atirador tem formação acadêmica no curso de Direito, é instrutor Black Badge e também é um policial federal aposentado há cerca de 16 anos. O início Antes de se tornar campeão mundial, Lucimar Domingues queria aperfeiçoar as habilidades na utilização da arma de fogo no trabalho e decidiu buscar mais conhecimento em um clube de tiro. “Desde o início da minha carreira policial, senti a necessidade de aprimorar as técnicas da utilização correta da ‘ferramenta’ de trabalho do policial, que é a arma de fogo. Em 1988, filiei-me a um clube de tiro, em Goiânia, para ter acesso a um estande de tiro e desenvolver a habilidade com as armas. Comecei participando das competições do clube. Naquela época ainda não existia o IPSC na minha cidade e busquei Brasília (DF), onde as competições de tiro eram mais frequentes. Os anos se passaram e, em 1996, tive a oportunidade de conhecer o IPSC, durante a realização do Campeonato Mundial de Tiro Prático, na capital federal. A partir dali, percebi que aquela modalidade de tiro era a que auxiliaria na minha atividade profissional. Em dezembro do mesmo ano fiz minha estreia, na modalidade do Tiro Prático, a nível nacional, na cidade de Porto Alegre (RS), nas instalações do Clube Tiro-4, numa Olimpíada da Polícia Federal. Desde então tenho participado de diversos campeonatos de IPSC no Brasil e no exterior”, lembra. O acidente que quase tirou Lucimar do IPSC Um grande obstáculo enfrentado pelo atirador aconteceu quando ele trabalhava ainda no ano de 2004, que quase o tirou da prática do tiro esportivo. “Naquele ano sofri um grave acidente automobilístico, em serviço, e tive fraturas cominutivas no braço direito. Na colisão, com outro veículo, bati a cabeça no para-brisas da viatura e o mesmo se quebrou, o que provocou doze pontos na cabeça. Fiquei dois anos afastados do meu trabalho e também do IPSC, fazendo tratamento e fisioterapia. Recorri ao renomado Centro de Reabilitação Sarah Kubitscheck, em Brasília (DF), onde obtive excelentes resultados na minha recuperação. Dezoito anos se passaram do acidente e o meu braço ficou com certa deformidade, o que, inclusive, confunde alguns árbitros do nosso esporte, pois, no momento de me colocar na posição correta, para iniciar a pista de IPSC (é necessário que o atleta esteja com os braços relaxados, ao longo do corpo) e, o meu braço ficou bastante ‘desalinhado’, o que dificulta atender a essa regra do regulamento do Tiro Prático. Com muita determinação e resiliência, durante o período afastado do trabalho e do esporte, dediquei-me à atividade de reabilitação que foi muito demorada e dolorosa. O meu braço ficou com certa limitação, o que dificulta em alguns momentos da prática do IPSC”, destaca Lucimar. Grave problema com a arma e o merecido título mundial Em 2011, Lucimar Domingues se sagrou campeão mundial individual de IPSC na Ilha de Rhodes, Grécia, mas para se tornar o número 1 do mundo, teve que superar um grave problema com a arma, há menos de duas semanas da competição. “Utilizei naquele evento uma pistola, no calibre .40 S&W, marca SVI, modelo Infinity, e é a mesma que continuo usando até hoje nas competições. O frame (chassi) da arma estava trincado e, faltando menos de duas semanas para o Mundial da Grécia, tive que viajar às pressas para Foz do Iguaçu (PR), a fim de que o armeiro Aderson Simião refizesse a câmara do cano, pois ela havia dilatado e estava dificultando a extração dos estojos. Portanto, esse inédito título alcançado na Grécia foi com arma rachada e câmara refeita”, pontua. O campeão continua atirando com a mesma arma que rendeu a ele o título em 2011, e a fissura no frame segue aumentando lentamente, e a qualquer momento, o equipamento pode parar de funcionar. O segredo para se tornar um campeão Lucimar Domingues não esconde o jogo quando questionado sobre a fórmula para se tornar campeão mundial nesta modalidade esportiva do Tiro Prático. “Muita transpiração, disciplina e bastante treino em seco. A maioria dos meus treinos sempre foi em seco, pois nunca tive patrocínio integral. Portanto, sempre atirei muito pouco com munição real, comparado aos meus adversários estrangeiros. Como funcionário público, e sem apoio quase nenhum, o ‘cheque especial’ sempre foi o meu maior ‘patrocinador’. Desse modo, para me manter nesse esporte, sempre foi uma grande luta, pois o Tiro Prático é um esporte caro em nosso país”, aponta. Em busca do bicampeonato mundial Lucimar lamenta a falta de incentivo e apoio no país ao tiro esportivo, mas mantém o foco na parte mais alta do pódio no mundial da Tailândia, que será realizado este ano. “Sem apoio suficiente para poder me preparar adequadamente, irei ao meu sétimo mundial. O deste ano será na Tailândia (que deveria ter ocorrido em 2020, mas foi adiado em consequência da pandemia). Vou a esse evento maior do nosso esporte para tentar alcançar outro inédito título, desta vez, de bicampeão mundial para o Brasil. Sei das dificuldades para se alcançar esse objetivo, pois isto não é fácil. Deveria estar treinando muito forte para esse evento. Entretanto, isso não está sendo viabilizado, pela falta de apoio”. Principais conquistas na carreira - Bicampeão brasileiro na divisão Standard, no Overall (2003 e 2008); - Medalha de bronze no campeonato europeu Super Sênior de IPSC, em 2007, na França. - Vice-campeão europeu Super Sênior de IPSC, em 2010, na Sérvia; - Bicampeão Pan-americano Super Sênior de IPSC, no Equador, em 2009 e Jamaica, em 2018; - Bicampeão Latino-americano Super Sênior de IPSC, na Argentina, em 2010 e 2019; - Participou de seis campeonatos mundiais e foi o primeiro brasileiro a alcançar o inédito título de campeão mundial, individual, em 2011, na Grécia; - Ainda nesse evento da Grécia conseguiu um feito que até o momento não foi superado por outro atleta brasileiro: o de campeão mundial no Shoot-Off, na divisão Standard, na categoria Sênior; - 05 (cinco) medalhas de ouro e 01 (uma) de prata nos XIII JOIDS (Jogos Nacionais de Integração dos Servidores da Polícia Federal), realizado em 2015, em Blumenau/SC, em seis modalidades de tiro em disputa. Tendo conquistado nesse evento o título de "Melhor atirador dos XIII JOIDS". Conquistou mais algumas medalhas de ouro em outras edições dos referidos Jogos; - Nove vezes campeão brasileiro de Tiro Prático Policial. Todas as dez edições do evento foram realizadas na cidade de Foz do Iguaçu (PR) e contou com a participação de todas as Forças Policiais do país e, ainda, das Forças Armadas brasileiras; - Hexacampeão do Flórida Open de Tiro Prático (competição realizada anualmente em todo mês de fevereiro, no Estado da Flórida - EUA); - Campeão norte-americano de IPSC, na divisão Standard e categoria Super Sênior, em julho de 2019, em Frostproof, na Flórida; - Campeão na divisão Standard Sênior, no F.I.P.T. (Florida Invitation Pistol Tournament), regido pela USPSA, realizado em Volusia County, Flórida, em dezembro de 2019; - Campeão no Overall, na divisão Standard, mesmo sendo Super Sênior, na V Etapa do Campeonato Brasileiro de IPSC Handgun, em 2018, em João Pessoa (PB); - Campeão no Overall, na divisão Standard, mesmo sendo Super Sênior, pela segunda vez na I Etapa do Campeonato Brasileiro de IPSC Handgun, em 2021, em Juiz de Fora (MG).