Minha Arma Favorita

A Revista SHOOTERS apresenta aos seus assinantes nesta edição, as armas favoritas do conceituado armeiro, José Simões Teixeira filho (Zeca Simões), do policial militar, Ralfi Pereira da Rosa e do renomado colecionador de armas, Luiz Fernando Chiari Ribeiro. As histórias que apresentaremos a seguir, foram escritas a próprio punho pelos personagens citados acima. Zeca, Ralfi e Luiz relataram todos os detalhes que determinaram estas armas como as favoritas deles. Na seleta lista, temos duas renomadas pistolas e também, um revólver de fabricação nacional. A arma apresentada por Zeca Simões é uma pistola SPS, com pintura inspirada no Curtiss P-40 Warhawk da Segunda Guerra Mundial, com mira Vortex Venom. Ralfi trouxe o revólver Rossi modelo 718, com cinco tiros, duas polegadas de cano e tambor liso. Uma raridade nos tempos atuais. Por fim, o colecionador de armas, Luiz Fernando Chiari, tirou do acervo e apresenta à 4ª edição da revista, a lendária pistola Luger DWM modelo P08, no calibre 9mm Luger. [caption id="attachment_7327" align="alignnone" width="1024"] Zeca Simões é atirador esportivo e armeiro. (Crédito: Arquivo Pessoal)[/caption] Zeca Simões Meu nome é José Simões Teixeira filho, mais conhecido como Zeca Simões, graduado em Ciências Aeronáuticas, profissão a qual transformei em hobby, e o hobby que tinha transformei em profissão, a armeria e o tiro prático. Armeiro profissional há 20 anos, natural de Curitiba, estado do Paraná, atirador esportivo há 21 anos, principalmente no IPSC. Difícil escolher apenas uma arma favorita, porém, uma se destaca ao longo desses anos. Iniciou apenas com uma ideia, que veio a se concretizar em 2018/2019. Comecei a frequentar clubes de tiro em 2000, o Clube Orion de Tiro principalmente, local onde montei minha primeira oficina. Lá, acabei conhecendo o tiro prático, mais precisamente o IPSC, juntamente com o amigo Guilherme Scotti. Logo vi que esse era o tipo de tiro que queria fazer, dinâmico, explosivo, com muito movimento e diversos tipos de alvos e cenários. A divisão mais comum para iniciar no IPSC era a Light, .380 ACP. A divisão Light não era nem reconhecida pela IPSC na época, porém, foi uma forma de entrar no esporte devido à dificuldade no Brasil de conseguir outros calibres. Assim, escolhi então a IMBEL MD1 GC .380 ACP. Iniciei a prática do IPSC, toda terça-feira à noite tinha o treino do pessoal, e ali conheci outra divisão, a Open, que me fascinou de imediato. A velocidade, o barulho, tudo, atiradores de renome até hoje estão ali voando com as armas, Mauricio Fedatto, Marcelo Artigas, Mário Brandalize, entre outros. Armas em calibre .38 Super Auto em plataforma 2011, por vezes me deixavam disparar com elas e era fantástico, mas era uma arma praticamente inacessível na época, difícil de conseguir. Segui na Light até 2005, até que apareceu a oportunidade de comprar uma pistola .38 Super Auto, mas era uma arma para a Standard, um tanto estragada, porém eu já estava no caminho da armeria, já tinha trabalhado em armas de amigos, clientes e na minha própria IMBELzinha, assim, transformar essa Standard em Open, não seria uma tarefa impossível. Comprei, apostilei e iniciei os trabalhos. Fabriquei o compensador, customizei o que era necessário, consegui carregadores maiores e uma mira óptica usada em más condições, mas era o possível na época. Em 2006 iniciei na nova divisão, claro que não voei com ela, mas sim, realmente era a divisão que eu queria ficar e nela estou até hoje. A experiência foi vindo, não só no tiro, mas na armeria, entendendo como tudo funcionava, e ali criei várias teorias, as segui testando, principalmente em minha arma: compensadores diferentes, dispositivos para melhora do equipamento... Nessa linha, fui desenvolvendo a teoria do porquê o 9x19mm seria o melhor calibre para a Open, principalmente pelas pólvoras disponíveis na nossa realidade brasileira. [caption id="attachment_7326" align="alignleft" width="300"] Pistola SPS com pintura inspirada no Curtiss P-40 Warhawk, com mira Vortex Venom. (Crédito: Arquivo Pessoal)[/caption] Mas na época, o 9x19mm era um calibre proibido, e assim as ideias ficaram em stand by até 2017, ano que foi conseguida a liberação do 9x19mm para atiradores. Desengavetei o projeto e atualizei as ideias. Apareceu uma 9x19mm de um amigo próximo, uma SPS, plataforma 2011 Espanhola, mas novamente uma arma Standard, e muito judiada, mas não foi um problema em 2005, e não seria um problema 12 anos depois. Com mais conhecimento e experiência em construir diversas armas de IPSC, principalmente armas Open, já estava com a oficina maior, mais moderna, com muito mais equipamentos e ferramentais, mais tecnologia, dentro de outro clube, do SK Clube de Tiro, um ateliê como muitos comentam, onde estou até hoje. Em 2017, disputaria minha última prova importante de .38 Super Auto, o Mundial de IPSC na França. Nessa prova me deparei com diversos atiradores de Open, usando o calibre 9x19mm, em fator maior, e a arma se comportava muito bem. Voltei para o Brasil com a ideia ainda mais forte. Apostilada a 9x19mm, a montei a toque de caixa, com peças usadas, apenas para testar minhas teorias, e se estivessem certas, realizaria o projeto como imaginei por anos. Não me decepcionei, tudo o que pensei era ainda melhor, atirei com o protótipo por meses, e em paralelo usinava e preparava as novas partes e peças. Finalmente o projeto de muitos anos de espera estava concretizado, não 100% pronto, mas funcional, faltava apenas um acabamento diferente. Como mencionei, minhas formações são em aviação, outra paixão, e queria deixar essa nova arma com a aparência dessa outra paixão. Começava a ser mais usada por aqui uma tinta a base de pigmento cerâmico, muito resistente. Falei com o representante da marca no Brasil, Gerson, para me credenciar como aplicador, aproveitaria a oportunidade, e usaria minha arma como cobaia no credenciamento. Comentei com o instrutor e representante da marca na América Latina, Sr. Tomás a minha ideia, mais complexo do que os pedidos normais, ele supervisionou e me auxiliou com o processo, e assim nascia a pintura inspirada em um Curtiss P-40 Warhawk da Segunda Guerra Mundial. Agora sim, minha arma idealizada e sonhada por tanto tempo estava finalmente pronta, tornando-se a primeira arma Open calibre 9x19mm em fator maior do Brasil, e minha arma favorita, com certeza, até hoje. Zeca Simões, Oficina Steel Custom Armeria LTDA, instagram @ZECASIMOES32 [caption id="attachment_7330" align="alignnone" width="1024"] Ralfi Pereira é atirador esportivo e policial militar. (Crédito: Arquivo Pessoal)[/caption] Ralfi Pereira É um imenso prazer fazer parte desta edição da Revista SHOOTERS e poder compartilhar um pouco da história, com minha arma favorita. Bueno! Vamos primeiro às apresentações. Me chamo Ralfi Pereira da Rosa, tenho 36 anos, sou policial militar há 13 anos e atuo na cidade de Bagé/Rio Grande do Sul. Atirador esportivo desde meados de 2018, comecei realmente a praticar o tiro esportivo em 2019 e com maior intensidade na modalidade IPSC, pela qual me tornei aficcionado. Em 2021 alcancei o título de Campeão Gaúcho de IPSC Pistola Standard e Vice-campeão brasileiro Pistola Standard Law Enforcement. Pois bem, feitas as apresentações, vamos ao que interessa! Falar sobre a minha arma favorita se torna fácil, pois foi minha primeira arma. E nessa história não poderia deixar de citar o até então Sargento Manzolli, um grande amigo que fiz ao longo dos anos na Polícia Militar, hoje aposentado. Ele foi o responsável por eu ter adquirido a arma. Um certo dia, conversando com o Sargento Manzolli, comentou que havia vendido uma pistola de sua propriedade para uma agente penitenciária, e que ela iria vender um revólver Rossi. De pronto me interessei, pois sempre gostei de revólveres, e no mesmo dia fui ver a arma. [caption id="attachment_7331" align="alignleft" width="300"] Revólver Rossi modelo 718. (Crédito: Arquivo Pessoal)[/caption] Quando coloquei os olhos naquela arma foi amor à primeira vista, Rossi modelo 718, 5 tiros, 2 polegadas de cano e tambor liso, bem cuidado, sem nenhum arranhão, parecia que tinha saído da fábrica, tamanho perfeito para usar como segunda arma e cabia no bolso. Fechei o negócio na hora, a arma era minha. Procurei a agente para ajustarmos a papelada de transferência, começamos a conversar e perguntei a ela sobre a arma. De cara, e meio contrariada, já me disse que não queria vender a arma, pois teria sido sua primeira, mas que tinha comprado uma pistola e não iria ficar com duas armas. Relatou também, que após sua formação como agente teria adquirido esta arma, que era a sua única, e que a usou como arma de porte e de serviço por alguns anos. Triste por ter que vendê-la me falou que logo após comprar a arma, direto da Rossi, comprou uma cartela com dez munições, destas efetuou 5 tiros de teste, e que haviam sido os únicos cinco tiros que teria feito com a arma até vendê-la para mim, e o mais instigante, é que as outras cinco munições ainda estavam na arma, geralmente as armas de porte de agentes de segurança são pouco usadas. O interessante é que por muitos anos esta arma me acompanha, digamos que mais ou menos uns 12 anos, e mesmo que hoje eu tenha outras armas, nunca deixo de usá-la, pois é a minha segunda arma, gosto dela porque é uma arma muito precisa e robusta, além de ser de pequeno porte. Felizmente, diferente da antiga proprietária, eu a uso bastante, já efetuei muitos disparos e algumas vezes participei de competições com ela. Inclusive, em 2020, eu e ela recebemos um troféu de campeões anuais de uma prova de Duelo 20 segundos, a qual consiste em 4 séries de 5 disparos no tempo de 20 segundos, em um alvo a 25 metros. Como comentei anteriormente, dentre muitas armas esta é a que eu tenho mais apreço e confiança, e não poderia deixar de escolhê-la como minha arma favorita. Por fim, um agradecimento especial a quem sempre me apoia, pois sem eles seria impossível crescer no esporte do tiro, Dr. Feeder, Guga Ribas Company, Eagle Bullets, Armeria Esparta, Target.it, Clube de Tiro e Caça de Bagé, Federação Gaúcha de Tiro Prático e Confederação Brasileira de Tiro Prático. [caption id="attachment_7328" align="alignnone" width="768"] Luiz Fernando Chiari Ribeiro é colecionador de armas. (Crédito: Arquivo Pessoal)[/caption] Luiz Chiari Meu nome é Luiz Fernando Chiari Ribeiro, mineiro, 76 anos. Tenho várias armas favoritas, mas um modelo em especial, desde sempre me fascinou, apesar de ser praticamente impossível formar uma coleção completa pelo fato de existirem 158 modelos e variações catalogadas da lendária pistola LUGER. Os primeiros protótipos produzidos pelo projetista Georg Luger datam de 1898, baseados na pistola Borchardt de 1893. Foram fabricadas e comercializadas cerca de 2.800 pistolas Bordchart até 1899, quando a produção foi interrompida por se tratar de uma arma de grandes proporções e muito pesada. Com o surgimento da Luger, bem menor e mais leve, em 1900 foi celebrado um contrato entre a fabricante DWM e o governo da Suíça, que adquiriu 5.000 pistolas no calibre 7,65 Luger, também conhecido como 7,65 Parabellum, para seu exército. O mesmo modelo 1900 foi produzido e vendido para comercialização, sendo 11.000 para os USA e 7500 para a Europa. Em 1906 a fábrica DWM introduziu uma alteração no projeto original, substituindo a mola de lâmina original por outra em espiral. Por volta de 1904, atendendo solicitação de contratantes militares que reclamavam da falta de potência do calibre 7,65 Luger, cujo projétil de 93 grains não atendia satisfatoriamente às necessidades de uma arma para uso militar, foi introduzido o calibre 9 mm Luger ou 9mm Parabellum, com projétil de 125 grains, que apesar de decorridos 118 anos de existência, ainda é o calibre de arma curta mais popular do mundo. [caption id="attachment_7329" align="alignleft" width="300"] Pistola Luger DWM modelo P08 calibre 9mm de 1917. (Crédito: Arquivo Pessoal)[/caption] Os calibres 9mm Luger e o 7,65 Luger têm o mesmo diâmetro na base e comprimento do estojo, sendo que o 7,65 é popularmente chamado no Brasil de garrafinha, em função do afunilamento do pescoço do estojo para receber um projétil com 7,65 mm. A única diferença entre as pistolas 7,65 e 9mm é a câmara e o diâmetro interno do cano. As pistolas fabricadas entre 1900 e 1908 tinham uma trava de segurança na parte traseira da empunhadura e só disparavam se esta peça fosse comprimida como nas pistolas Colt 1911. Em 1908 esta trava foi suprimida e surgiu o modelo 1908, também conhecida como P08. As Lugers foram fabricadas com inúmeras variações, sendo o principal os seis comprimentos dos canos que variam entre 3,9 a 7,97 polegadas, mais o do modelo chamado Carbine, com 11,81 polegadas e coronha removível, além de um carregador redondo tipo Drum para 32 cartuchos. Desde o início de sua produção em 1900 até 1945, no final da Segunda Guerra, as pistolas Luger tinham todas as suas peças totalmente intercambiáveis, não havendo uma única sequer que não tivesse saído das várias fábricas que produziram estas pistolas, com qualquer peça que não fosse absolutamente idêntica, sem a mínima diferença nas suas dimensões. No Brasil, que importou 5.000 pistolas, modelo 1906 no calibre 7,65 para suprir o exército, é comum encontrar pistolas que eram desmontadas em conjunto nos quartéis, e depois remontadas com peças não pertencentes às armas, como saíam da fábrica, com as peças principais numeradas com os dois últimos dígitos do número de série. Das 3.118.300 Lugers produzidas, a DWM foi responsável por 1.331.000 unidades, seguida pela Mauser, com 1.014.000 e a Königliche Erfurt 686.000. Além destes três grandes fabricantes, existiram mais cinco fábricas cuja produção média foi de 20.000 unidades cada. A Luger foi a primeira pistola semiautomática que teve sucesso e produção em massa, tanto para finalidades militares e policiais, como para fins comerciais, tendo sido utilizada em grande escala na Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Além da Alemanha, mais 15 países firmaram contratos vultosos de importação com finalidade de uso militar: Áustria, Arábia, Bolívia, Brasil, Bulgária, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Lituânia, Pérsia, Portugal, Rússia, Suécia, Suíça e Turquia, sendo que a maioria das pistolas destes contratos trazem a gravação do brasão de cada país, marcas de prova diferente, calibres e comprimento de cano. Uma senhora que ficará eternamente inscrita na história da humanidade pelo fantástico projeto, fabricação esmerada, acabamento primoroso, eficiência e ótima precisão para a sua época.