Mulher no Tiro – Fabiana Trentin

Como você lida com o que te aflige? Você enfrenta o seu medo? Para muitas pessoas, encarar estas questões é difícil e, por isso, muitas vezes acabam postergando a resolução destes problemas. A personagem do quadro “Mulher no Tiro” desta edição teve que passar por três momentos complicados e esteve em risco até mudar radicalmente o comportamento e estilo de vida. Nossa entrevistada é Fabiana Trentin. Ela nasceu na cidade de Passo Fundo (RS), tem 40 anos de idade e atualmente divide seu domicílio entre a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre e a cidade de Marau, na região norte do Estado. Fabiana é mãe, advogada, empreendedora, palestrante, instrutora de armamento e tiro, atiradora, embaixadora da Glock no Brasil e patrocinada pela Armífera e Pelican/Tecnotri. [caption id="attachment_8810" align="alignleft" width="533"] "Não podemos terceirizar nossa segurança", relata a atiradora, Fabiana Trentin. (Crédito: Arquivo Pessoal)[/caption] A adversidade e a mudança de comportamento Até iniciar no mundo do tiro esportivo, a família de Fabiana experimentou o gosto amargo de ser assaltada dentro da própria casa. Mas antes de mudar de comportamento, teve que passar por uma terceira situação complicada. “No Brasil, infelizmente, temos a cultura da reação e não da prevenção. Quando aconteceram os assaltos na minha casa, ficamos muito assustados, é uma experiência traumatizante. E como pensar no assunto não é nada agradável, a tendência é querer superar e esquecer o quanto antes. Em outra situação, me vi sozinha no meio de uma estrada deserta, cercada por mato e com o pneu do meu carro furado. Quando estava trocando o pneu, dois homens apareceram e pararam sem eu pedir ajuda e foi ali que percebi que estava totalmente vulnerável, não havia ninguém para me ajudar caso fosse preciso. Neste exato momento me prometi que não ficaria vulnerável desta maneira novamente. Foi então que procurei o meu primeiro curso de tiro”, recorda Fabiana que enfatiza ainda: “Já se passaram quase 6 anos desde que entrei no maravilhoso mundo do tiro para aprender a me defender. Na ocasião, o medo da violência falou mais alto do que todos os empecilhos e preconceitos que rondavam e, infelizmente ainda rondam, a arma de fogo”, lembra a instrutora. O início no tiro esportivo Após as experiências negativas, Fabiana “virou a chave” e não parou mais. Se tornar atiradora foi apenas o passo inicial. “Como citei anteriormente, desde o que aconteceu comigo, não parei de treinar! Me tornei CAC e posteriormente instrutora de tiro, porque sentia falta de instrutoras de tiro. Na época tinham instrutoras institucionais, mas pouquíssimas instrutoras civis, e ainda menos cursos femininos de tiro. Organizei a primeira turma feminina, pois percebi que várias mulheres tinham interesse em entrar no mundo do tiro, mas se sentiam constrangidas por ser um ambiente predominantemente masculino. Montar um curso feminino foi a realização de um sonho”, destaca a instrutora. Contato com o IPSC Quanto ao tiro esportivo, somente participei de algumas experiências em IPSC. Tive a honra de treinar com o Mauro Thompson e o Gui Klaime, capitão e integrante do Team GLOCK Brasil, respectivamente. Foi uma experiência fantástica! Me diverti muito e recomendo. A palestra “Mulher como protagonista na defesa” Um dos pontos altos na carreira de Fabiana Trentin, foi palestrar na 2ª edição da Shot Fair Brasil. Na oportunidade, a atiradora discorreu sobre o tema: “A mulher como protagonista na defesa; na sua defesa e de seus familiares.” “Palestrar na Shot Fair foi uma honra imensa. A mulher como protagonista na segurança foi uma palestra com o intuito de abordarmos o assunto segurança em casa, na infância, desde a base. Não podemos terceirizar nossa segurança! Não podemos ensinar as filhas a transferir a responsabilidade da sua segurança a uma figura masculina, no primeiro momento o pai, irmão, primos em seguida ao marido, e assim por diante. Pois nossa sociedade mudou, não vivemos mais fechadas em casa. Somos mais fracas fisicamente e por não estarmos sempre na presença de algum homem para que ele nos defenda, nos tornamos alvos fáceis. Por isso, entendo que as filhas devem ser inseridas no contexto da segurança e autodefesa ainda no ambiente familiar. Pois sob estresse, repetimos somente o que estamos treinadas a realizar, e se só incentivarmos os filhos homens a aprender a se defender, e não as filhas mulheres, nós continuaremos sendo as maiores vítimas de violência” pontua. Mudança comportamental e autodefesa Fabiana Trentin reforça a importância da mudança de comportamento por parte das mulheres para que estas não continuem sendo vitimadas. “A mudança comportamental fará com que as mulheres entendam que sua segurança é prioridade. Isso fará com que invistam em autodefesa e estando treinadas e aptas a se defender, faremos com que as trágicas estatísticas de violência contra as mulheres, finalmente diminuam. Arma de fogo é instrumento de defesa, é equalizador de forças, consequentemente, é a nossa melhor aliada nesta luta contra a violência”, salienta. Defesa familiar Por fim, Fabiana Trentin lembra que uma família unida, em que todos sabem se defender, aumenta a possibilidade de êxito. “Uma família em que todos saibam se defender, saibam manusear instrumento de defesa, tem chances infinitamente maiores de ter êxito em uma situação de perigo do que a família em que só a figura masculina tenha este conhecimento. E, além da questão da segurança familiar, o fato de inserir as mulheres no mundo do tiro faz com que toda a família passe a frequentar os clubes, tenha acesso ao viés esportivo e recreativo do tiro, que é fantástico! O casal, além de ser casal, passa a ser uma “dupla”. A família, além de ser só família, passa a ser uma equipe. Com a inserção feminina neste esporte e defesa, não só as mulheres saem ganhando, mas sim, as famílias e toda a sociedade”, finaliza Fabiana Trentin.