O senador Marcos do Val (Podemos – ES), concedeu entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (2), em Brasília (DF), e explicou o que aconteceu na versão dele, nos bastidores da política na capital federal, após as eleições presidenciais do país em outubro de 2022. Do Val negou que foi coagido pelo ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL) a dar um golpe de estado e atribuiu a acusação ao ex-deputado federal, Daniel Silveira (PTB – RJ).
Durante a coletiva de imprensa, Marcos do Val relatou que foi procurado pelo ex-deputado federal, Daniel Silveira, que o informou que o ex-presidente, Jair Bolsonaro queria conversar com ele.
“Fui procurado no Plenário pelo ex-deputado (Daniel Silveira), que pediu para que e fosse do lado de fora porque não estava com os trajes que são obrigatórios entrar dentro do Plenário. E assim, eu saí e fui até lá, e ele disse que o presidente (Jair Bolsonaro) queria conversar comigo. Pelo telefone dele mesmo ele ligou para o presidente (Bolsonaro) que me perguntou se eu poderia encontrar com ele naquela hora. Eu disse: olha presidente, eu estou com votação nominal aqui. E durante esse período de quatro anos do governo dele, nunca tive um encontro com ele (Jair Bolsonaro), nunca tive agenda com ele, eu dizia isso pra vocês (imprensa) que nunca tive momento só eu e ele hora nenhuma. E o fato dele, o Daniel ter me procurado para esta reunião, eu achei estranho por isso, em quatro anos eu nunca… nem ele demandou eu estar com ele nem eu demandei estar de eu estar com ele. No dia seguinte não era possível, e aí eu perguntei se poderia ser no outro dia, em uma sexta-feira. Foi numa quarta que ele me abordou, quinta e seria na sexta. Mas eu já estava pensando que precisava reportar isso ao ministro (STF), Alexandre de Moraes. Então, eu liguei para o ministro Alexandre de Moraes e disse que precisava falar com ele com uma certa urgência”.
Do Val destacou que o encontro com Alexandre de Moraes se deu no Salão Branco, no STF. “Encontrei com ele e disse que tinha sido abordado pelo Daniel Silveira para fazer esta reunião com o presidente, que eu não tinha ideia do que poderia ser, e perguntei ao ministro o que ele achava, seu eu deveria ir ou não. Aí o ministro disse: vai porque é bom saber. Quanto mais informação, melhor. Então eu marquei no para o dia seguinte, sexta-feira. Eu tinha um voo para Vitória (ES) no final da tarde e quando chegou na sexta de manhã, eu recebi a ligação do Daniel Silveira e ele me perguntou se eu já estava disponível para ir e eu disse que iria com o meu carro oficial e encontro lá. E foi quando ele disse: vamos nos encontrar no meio do caminho que é importante você não entrar com o seu carro oficial. Quando ele disse isso, eu pensei que seria algo no setor, área de inteligência. Falei com ele que eu iria com o meu carro, até porque eu gosto de tornar tudo muito transparente, a placa do meu carro me identifica né, mas ele tinha dito que não, é melhor te pegar em outro veículo. Então a gente marcou, o meu motorista parou em um estacionamento, não me recordo aonde porque eu não conheço Brasília. E parou um carro atrás. Um dos carros que fazia a escolta do presidente e tinha o motorista e o Daniel já estava lá dentro. O Daniel então pediu para que eu entrasse no carro deles e eu pedi para o meu motorista aguardar. Saí do meu carro e fui para o carro deles e nós partimos para a Granja do Torto se não me engano. Passei sem ser identificado. A ideia deles era que eu não fosse identificado como um senador que estava indo lá. Pra mim era alguma coisa na área de inteligência e voltado a questão dos acampamentos em frente aos quartéis, meu entendimento seria nesse sentido. Quando chegamos lá, eu até iniciei o assunto, nós estávamos na sala, só eu, o Daniel e o ex-presidente (Bolsonaro) e eu até iniciei o assunto falando que era necessário ele comunicar logo a sociedade de que não iria acontecer nenhuma intervenção militar, a Constituição não permite isso e tirasse aqueles brasileiros que estavam ali debaixo de sol, chuva, crianças, idosos e tal. Mas ele (Bolsonaro) qualquer movimento que eu faço, pode ser que o ministro Alexandre entenda que eu estou incentivando, que foi eu que dei a motivação para os brasileiros estarem ali, então eu prefiro não me envolver. Eu falei: tá bom, mas eu acho que a situação que eles (brasileiros) estão lá, se você puder falar, eles saem”.
O senador prosseguiu a entrevista dando mais detalhes sobre o que teria acontecido nesta reunião.
“Aí o Daniel Silveira começou a fazer a explicação do porque eu ter sido chamado. E aí ele falou: como você está tendo um acesso frequente com o ministro, Alexandre de Moraes… eu achei estranho ele ter esta informação porque eu nunca tornei isso público, exatamente pelo trabalho de inteligência que realizo”.
Marcos do Val seguiu dizendo o que teria ocorrido na reunião: “a gente queria te passar uma missão que pode salvar o Brasil. Quando ele falou, pode salvar o Brasil, eu falei, pensei; é algo muito maior do que eu esperava e fiquei atento. E aí ele começou a explicar. A ideia seria; eles colocariam um equipamento de gravação (no senador), teria um veículo já próximo ao STF capitando o áudio e eu nesta reunião com o ministro Alexandre, eu conduzindo para ele falar que em algum dos processos dele, ele ultrapassou a linha da Constituição. E eu disse de pronto que não faria isso, que não faria este tipo de ação e disse: olha presidente e Daniel, isso é ilegal, para fazer escuta, gravação, tem que ter autorização de um juiz porque ele (juiz) tem até o direito de nem escutar. E eu não vou me envolver nisso”.
Neste momento da entrevista, com cerca de 7 minutos e 28 segundos, o senador, Marcos do Val enfatizou que o ex-deputado federal era quem falava e conduzia a reunião e, que o presidente, Bolsonaro estava somente escutando juntamente com ele: “O presidente estava escutando junto comigo ao mesmo tempo que o Daniel falava. E aí o Daniel falou: nós já temos uma equipe que já está preparada para poder (a gravação) ir para a mão de não sei quem, que tornaria a gravação de uma forma como se estivesse, iria ser legalizado”.
Do Val pontuou durante toda a reunião, Bolsonaro ficou em silêncio e o ex-deputado quem conduziu o assunto.
“Para eu não continuar ali sendo pressionado, e eu pensando que precisava reportar isso o quanto mais rápido ao ministro, Alexandre de Moraes, eu disse que iria pensar. Durante todo este processo, o presidente (Bolsonaro) estava em silêncio e quem falava era o Daniel. E eu falei: vou pensar e depois eu faço o contato. Despedimos, o presidente me agradeceu por ter ido”.
Por fim, o senador, Marcos do Val destacou o trabalho que vem realizando nas investigações da invasão na sede dos três poderes em Brasília no início de janeiro e isso teria como objetivo tirar a credibilidade dele.
“Então não houve. Saiu na imprensa que o presidente me coagiu, isso foi ontem (informação divulgada pela imprensa). Eu já prevendo por conta do meu trabalho de levantar o que aconteceu no dia 8 de janeiro (invasão dos três poderes em Brasília), eu estou sozinho neste processo de investigação de quem realmente foram, não os que quebraram porque esses a Polícia Federal já está fazendo, mas os que prevaricaram. Então eu fiquei já ciente de que em algum momento, alguma coisa iria acontecer para me colocar numa situação eu poderia perder minha credibilidade, minha honra”, finaliza Marcos do Val.
O ex-deputado federal, Daniel Silveira, foi preso na manhã desta quinta-feira (2) pela Polícia Federal na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. A prisão de Daniel foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em razão do descumprimento de medidas cautelares também definidas pelo tribunal – como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de usar redes sociais.
A Revista SHOOTERS não conseguiu contato com as assessorias do ex-deputado federal, Daniel Silveira e do ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.